É comum os questionamentos dos pais e/ou responsáveis se intensificarem quando incentivamos as crianças a realizarem tarefas que no ano anterior - no Maternal III - não faziam sem o acompanhamento de terceiros como, por exemplo, ir ao banheiro sozinha, ir a secretaria escolar para pedir algum objeto que será usado em sala de aula, dentre outras atividades.
Sabemos que muitos pais ficam receosos porque temem pela segurança do filho. Alguns partem do pressuposto que ele não é capaz de realizar determinadas tarefas. No entanto, é através dessas atividades cotidianas que a criança começa a se familiarizar com os diversos espaços da escola. Ela compreende que caminhar pelo pátio sem a presença da professora não é ameaçador e que crianças de idades diferentes também podem fazer parte das suas relações de amizade. Nosso objetivo é ampliar as relações interpessoais dos alunos e incentivá-los a explorar o espaço além da sala de aula com mais autonomia.
Baseada nas dúvidas frequentes dos pais e/ou responsáveis, produzi um texto que poderá auxiliá-los na compreensão do trabalho que fazemos no 1º período em sua dimensão procedimental e atitudinal.
Vamos imaginar uma situação comum na hora do lanche: as crianças pegam a mochila, retiram a merenda, arrumam suas mesinhas, comem e trocam petiscos com os colegas. No entanto, a professora percebe que um aluno permaneceu em seu lugar e apenas olha o restante dos amigos lanchando.
Nesse momento, é importante investigar o que aconteceu com a criança; se está triste, com vergonha, insegura, doente... Ou seja, é fundamental realizar uma leitura minuciosa do contexto que a cerca. Não é correto afirmar que a criança não sabe realizar tal tarefa e, por esse motivo, entregar o lanche em suas mãos. É igualmente desrespeitoso exigir que a mesma se levante e pegue sua mochila como os outros colegas.
Simplificar as atitudes das crianças é incoerente quando trabalhamos com seres complexos, mas dentre as diversas razões que motivaram a inércia da criança no exemplo acima, escolho uma para tratar no presente texto: a autonomia.
Desenvolvimento da autonomia. Palavras frequentemente usadas nos discursos docentes, registradas nas propostas pedagógicas e desejadas pelos pais ou responsáveis na educação das crianças. Mas, afinal, como trabalhar o desenvolvimento da autonomia? Não são pequenos demais para serem autônomos?
É muito comum os pais questionarem a independência que está implicada no tornar-se autônomo. Recorrentemente, cria-se a impressão que a criança dispensará a proteção e o cuidado, mas não é isso que acontece. A intervenção do professor no desenvolvimento da autonomia objetiva trabalhar com os comportamentos que a criança é capaz de realizar e, ao mesmo tempo, incentivar comportamentos que ela tem condições de aprender, respeitando os limites de cada faixa etária.
Autonomia não significa acelerar nem tolher o saber fazer e ser. É dar a criança a possibilidade de pensar sobre suas atitudes, participar das decisões e discussões dentro da sala de aula, procurar resoluções para seus conflitos, comumente com a mediação do professor.
Sabe-se que um aluno de quatro anos que não possui nenhum comprometimento no seu desenvolvimento é capaz de levantar da cadeira, pegar o seu lanche, abrir sua toalhinha e colocá-la na mesa – comportamentos que ele já é capaz de realizar sem ajuda de terceiros. Entretanto, esse mesmo aluno pode não conseguir abrir a garrafinha de suco ou o pacote de salgadinho. Nesse caso, ele sempre terá ajuda do professor. O importante é ensiná-lo como fazer.
A criança pode e deve solicitar ajuda sempre e a professor deve atender seu pedido. Essas atitudes criam um vínculo de confiança e afeto na relação professor-aluno e a criança, em momento algum, se sentirá abandonada.
A palavra norteadora da prática docente é o respeito!
Não se trata de ensinar o respeito mútuo e a autonomia. Trata-se de vivenciá-los envolvendo os alunos a pensar por si próprios, honestamente, diariamente.
Danielle Faria.
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