sábado, 12 de março de 2011

Conviver

Texto elaborado para reunião entre pais e professores.
Início do ano letivo de 2011.



Fico me perguntando qual o pai ou mãe que não deseja um mundo melhor para que os seus filhos possam viver futuramente. Qual o pai ou a mãe que nunca sonhou com um mundo menos violento, onde o respeito pelas diferenças aconteça, onde o preconceito não seja pretexto para os conflitos, onde a tolerância, de fato, seja concreta e vivida. Tenho certeza de que todos desejam que seus filhos cresçam no melhor ambiente possível e que, ao abrir a porta de casa rumo a sua independência, eles vejam um mundo em que o “perigo” seja somente uma palavra em desuso.
Queria garantir a vocês que na próxima década... Que amanhã! Todas e quaisquer formas de violência e desrespeito desaparecerão, mas o futuro é incerto e essas promessas seriam um engodo. No entanto, temos o dia de hoje! É no presente que as situações podem ser (re) pensadas, condutas podem ser modificadas... E é no tempo presente que a educação tem seu foco, porque é intervindo “no hoje” que o futuro poderá ser transformado.
Nas reuniões do Ensino Fundamental I, sempre privilegiamos temas relacionados à aprendizagem de conteúdos como a Matemática e/ou o Português, mas nessa reunião, o texto esclarecerá alguns pontos sobre como a escola entende e conduz a convivência em grupo, tema que nos preocupa e que, indubitavelmente, é o maior desafio das escolas nos tempos atuais.
O que entendemos sobre conviver? Primeiramente, não estamos preocupados com o significado do “conviver” descrito no dicionário, pois essa é a parte mais simples. Quando planejamos e intervimos em um determinado grupo, nosso objetivo é sempre criar um ambiente onde todas as relações sejam baseadas no respeito, na cooperação e no desenvolvimento da autonomia.
Como os profissionais da escola trabalham a convivência grupal? No início do ano, as professoras eu conversamos com os alunos e, juntos, combinamos regras para uma convivência harmônica na escola. Nosso primeiro e mais importante combinado é: “respeitar todos os que convivem conosco”. Todos os demais acordos/combinados poderiam ser aglutinados nessa frase, afinal, “chamar o colega pelo nome”, “resolver os conflitos através do diálogo”, dentre outros combinados, significam demonstrar e vivenciar o respeito pelo outro.
Pedimos aos pais que nos ajudem nessa tarefa de viver o respeito pelas diferenças. Não é ensinar (teoricamente), é vivenciar o respeito cotidianamente. Para ficar mais clara a diferença entre ensinar (teoria) e vivenciar (prática), perguntem as crianças sobre os “Combinados”. Estou certa de que elas saberão todos! Dirão a vocês a maioria sem titubear, mas será que colocam em prática os mesmos? Aqui reside a diferença em conhecer os “Combinados” e vivenciá-los, porque posso conhecer e entender o motivo das regras de convivência, mas é no dia a dia que o desafio se posta... No encontro com as diferenças, no surgimento de um possível conflito e nas possibilidades de resolução.
Aos pais esclarecemos que há dois tipos de regras: as morais e as convencionais, como afirmam DeVries e Zan (1998). As regras morais são inegociáveis, pois envolvem princípios éticos. “Não mentir”, “não agredir um colega”, são exemplos de regras morais. Não é possível justificar ou amenizar uma agressão. Da mesma forma que não é possível negociar uma mentira, pois o princípio que está em jogo é a honestidade.  No caso das regras convencionais, elas podem ser modificadas dependendo do contexto. Por exemplo, sempre pedimos aos alunos para falarem em voz baixa, quando precisam se comunicar com um colega durante a execução de uma determinada atividade. No entanto, essa regra pode ser modificada quando o professor propõe uma tarefa em que os alunos precisam discutir e trocar ideias. Nesse caso, o silêncio não é bem-vindo, pois a atividade requer a participação de todos.
Após distinção de regras morais e convencionais, convido aos pais que façam um exercício diário com seu filho . Quando perguntarem a ele como foi o dia na escola, lembrem-se de indagar se seu filho respeitou os que convivem com ele . Perguntem, também, se ele foi respeitado pelos colegas, professores e todos que trabalham e estudam na escola. Deem ênfase a convivência grupal!
Como escrevi anteriormente, queria garantir que no futuro, as palavras “intolerância”, “perigoso”, “preconceito” estivessem em desuso, entrementes, volto a afirmar que o futuro é algo inalcançável. Mas temos “o aqui e o agora” e somente eles têm o poder de transformar.
Sejamos mais gentis, incentivemos a consciência coletiva, trabalhemos em cadência rumo à construção de um ambiente cooperativo, onde o respeito mútuo seja vivido.

Danielle de Faria Reis.

Referência Bibliográfica: DeVries, Rheta. Zan, Betty. A Ética na Educação Infantil: o ambiente sócio moral na escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

"Quando meu filho vai ler e escrever?"

Texto elaborado para reunião entre pais e professores no ínicio do ano letivo de 2011.
Turma: 1º ano.



“A alfabetização é como começar a andar: quando vemos um grupo de crianças andando, você não sabe quem andou primeiro. Ler é o mesmo: uns começaram em março, outros em outubro, outros em novembro. Mas quando todos leem, você não sabe quem leu primeiro!”, diz a psicopedagoga Renata Aguillar.
Quando lemos a frase da psicopedagoga, parece simples compreender o processo de alfabetização.
Sabemos que a aprendizagem é diferente para cada criança e o tempo para aquisição da leitura e da escrita não é o mesmo para todos, mas recorrentemente a angústia e/ou ansiedade dos pais se traduz na seguinte pergunta: “quando o meu filho vai ler?” Às vezes, a pergunta transforma-se em um pedido de socorro: “quero que me ajude, pois meu filho não lê e conheço alunos da sala dele que já estão lendo há dois meses!" Preocupações compreensíveis e muito comuns.
É importante entenderem que existem cinco níveis de alfabetização, como a competente pedagoga e psicóloga Emília Ferreira nos ensinou, e a criança está em constante evolução. Quando introduzido no mundo das letras, o aluno não estabelece vínculo entre fala e escrita. Ele usa números e letras na mesma palavra e/ou a representa através de desenhos. Posteriormente, a criança percebe que existe alguma relação entre pronúncia e a escrita, desvinculando a escrita das imagens e os números das letras. Supõe que a escrita representa a fala e, aos poucos, começa a combinar vogais e consoantes na mesma palavra, tornando a leitura sociável, como no exemplo a seguir:
Rezouvel que corresponde a resolveu.
Um dos objetivos do 1º ano é que a criança aprenda a ler e escrever, ou seja, que alcance o nível alfabético e isso acontece quando há a compreensão do modo da construção do código da escrita. O aluno entende que existem letras e que estas representam palavras... Há as consoantes, as vogais e, quando combinadas, transformam-se em palavras diferentes e as uniões dessas palavras formam uma frase.
Portanto, no 1º ano, o aluno lê e consegue representar o que leu através da escrita, mas vale ressaltar que esse é um processo construído durante a vida escolar formal e informal. da criança 
A escrita, por sua vez, é acompanhada de omissão de vogais ou consoantes, principalmente em palavras mais complexas, como na seguinte frase:
“O MENINO VIROL UM LOBO E SEUS AMIGOS SAIU CORREDO”. Percebam que a criança troca o “U” pelo “L”, não escreve o “N” na palavra correNdo e não consegue conjugar o verbo “sair” de forma correta.
A troca de letras também é comum em palavras que possuem sons parecidos, como “CAZA” (casa) e “REZOLVEU” (resolveu).
As trocas e as omissões de palavras são normais nessa fase e não caracterizam problema de aprendizagem. Comumente, é no 2º ano que os erros ortográficos diminuem. Diminuirão, o que não significa que desaparecerão!
Com relação ao tempo de aprendizagem de cada criança, a escola está preparada para intervir nos diferentes níveis de alfabetização. Caso seja diagnosticada alguma situação que caracterize déficit ou que precise de mais atenção, os responsáveis serão orientados.
Espero que o texto tenha esclarecido alguns pontos do processo de alfabetização.
Exponham suas dúvidas! Quanto menos ansiosos estiverem com relação ao momento em que seu filho irá ler e escrever, maior será a possibilidade de serem facilitadores do processo ensino-aprendizagem.


Danielle Faria.

Desenvolvimento da autonomia


É comum os questionamentos dos pais e/ou responsáveis se intensificarem quando incentivamos as crianças a realizarem tarefas que no ano anterior - no Maternal III - não faziam sem o acompanhamento de terceiros como, por exemplo, ir ao banheiro sozinha, ir a secretaria escolar para pedir algum objeto que será usado em sala de aula, dentre outras atividades. 
Sabemos que muitos pais ficam receosos porque temem pela segurança do filho. Alguns partem do pressuposto que ele não é capaz de realizar determinadas tarefas. No entanto, é através dessas atividades cotidianas que a criança começa a se familiarizar com os diversos espaços da escola. Ela compreende que caminhar pelo pátio sem a presença da professora não é ameaçador e que crianças de idades diferentes também podem fazer parte das suas relações de amizade. Nosso objetivo é ampliar as relações interpessoais dos alunos e incentivá-los a explorar o espaço além da sala de aula com mais autonomia.
Baseada nas dúvidas frequentes dos pais e/ou responsáveis, produzi um texto que poderá auxiliá-los na compreensão do trabalho que fazemos no 1º período em sua dimensão procedimental e atitudinal. 

Vamos imaginar uma situação comum na hora do lanche: as crianças pegam a mochila, retiram a merenda, arrumam suas mesinhas, comem e trocam petiscos com os colegas. No entanto, a professora percebe que um aluno permaneceu em seu lugar e apenas olha o restante dos amigos lanchando.
Nesse momento, é importante investigar o que aconteceu com a criança; se está triste, com vergonha, insegura, doente... Ou seja, é fundamental realizar uma leitura minuciosa do contexto que a cerca. Não é correto afirmar que a criança não sabe realizar tal tarefa e, por esse motivo, entregar o lanche em suas mãos. É igualmente desrespeitoso exigir que a mesma se levante e pegue sua mochila como os outros colegas.
Simplificar as atitudes das crianças é incoerente quando trabalhamos com seres complexos, mas dentre as diversas razões que motivaram a inércia da criança no exemplo acima, escolho uma para tratar no presente texto: a autonomia.
Desenvolvimento da autonomia. Palavras frequentemente usadas nos discursos docentes, registradas nas propostas pedagógicas e desejadas pelos pais ou responsáveis na educação das crianças. Mas, afinal, como trabalhar o desenvolvimento da autonomia? Não são pequenos demais para serem autônomos?
É muito comum os pais questionarem a independência que está implicada no tornar-se autônomo. Recorrentemente, cria-se a impressão que a criança dispensará a proteção e o cuidado, mas não é isso que acontece. A intervenção do professor no desenvolvimento da autonomia objetiva trabalhar com os comportamentos que a criança é capaz de realizar e, ao mesmo tempo, incentivar comportamentos que ela tem condições de aprender, respeitando os limites de cada faixa etária.
Autonomia não significa acelerar nem tolher o saber fazer e ser. É dar a criança a possibilidade de pensar sobre suas atitudes, participar das decisões e discussões dentro da sala de aula, procurar resoluções para seus conflitos, comumente com a mediação do professor.
Sabe-se que um aluno de quatro anos  que não possui nenhum comprometimento no seu desenvolvimento é capaz de levantar da cadeira, pegar o seu lanche, abrir sua toalhinha e colocá-la na mesa – comportamentos que ele já é capaz de realizar sem ajuda de terceiros. Entretanto, esse mesmo aluno pode não conseguir abrir a garrafinha de suco ou o pacote de salgadinho. Nesse caso, ele sempre terá ajuda do professor. O importante é ensiná-lo como fazer.
A criança pode e deve solicitar ajuda sempre e a professor deve atender seu pedido. Essas atitudes criam um vínculo de confiança e afeto na relação professor-aluno e a criança, em momento algum, se sentirá abandonada.
A palavra norteadora da prática docente é o respeito!
Não se trata de ensinar o respeito mútuo e a autonomia. Trata-se de vivenciá-los envolvendo os alunos a pensar por si próprios, honestamente, diariamente.

Danielle Faria.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Adaptação Escolar

Texto elaborado para reunião entre pais e professores no ínicio do ano letivo de 2011.
Turma: Maternal III - idade 2/3 anos.


Crianças chorando, pais preocupados e ansiosos se espremendo na porta da sala de aula para certificarem que seu filho já se acalmou. Esse é um cenário comum no início do ano na escola, pois todos desejam que seu filho sinta-se bem no ambiente escolar e que sua adaptação seja tranquila.
Primeiramente, é importante enfatizar que a escola compartilha dos mesmos objetivos dos pais, que é o bem-estar da criança em um espaço que para ela é novo, portanto, um acolhimento de qualidade é essencial para adaptação dos pequenos alunos.
Baseada nos questionamento dos pais, procurei elucidar o que significa o tão mencionado período de adaptação. Afinal, o que significa essa palavra: “adaptação”? Quando posso considerar que meu filho está adaptado?
Palavra simples de entender, mas difícil de vivenciar. A adaptação escolar envolve basicamente experimentar situações novas que, muitas vezes, causam estranheza e medo.
Imaginemos a seguinte situação: você recebe uma nova proposta de emprego e resolve aceitá-la. Quando chega ao ambiente do seu novo trabalho tudo é diferente: seus colegas, a política da empresa, sua chefia, suas atribuições profissionais... Até os adultos têm sentimentos que demonstram ansiedade e receio, pois experimentam a transição entre o que era familiar e se veem em uma situação desconhecida.
Agora, imaginemos o que significa essa transição entre o familiar e o desconhecido para uma criança. O que acontece com as crianças quando entram na escola não é tão diferente com o que acontece com um adulto. Elas são inseridas em um ambiente desconhecido e começam a conviver com pessoas também desconhecidas. São tantas novidades que a primeira reação é o medo, a timidez, o olhar desconfiado... Todos esses comportamentos vão variar de intensidade e frequência, mas a grande maioria das crianças sentirão o mesmo.
Diante do exposto, precisamos ter em mente que a adaptação é processual. Não acontece em duas horas, nem em três dias. O trabalho do professor é durante todo o ano.
De modo geral, pode-se afirmar que a criança está adaptada ao ambiente escolar quando a mesma sente-se segura na escola.
Neste ponto introduzo outra questão de extrema importância para uma adaptação de qualidade: os adultos de referência para a criança precisam demonstrar tranquilidade e segurança no momento de deixá-las na escola.
A segurança para a criança está na sua família, dentro da sua casa, acompanhada de pessoas que ela conhece. Os pais devem estar cientes de que a decisão de colocar o filho na escola significa apresentá-lo a um ambiente novo e, por isso, estranho. Para amenizar o impacto da mudança de ambiente (casa/escola), explique para seu filho o significado da palavra “escola”, tentando apresentá-la sempre como um lugar agradável. Converse com ele e conte que, na escola, encontrará outras crianças com quem poderá brincar e divertir.
É igualmente importante que os pais demonstrem confiança nos profissionais e estejam certos de que a decisão de colocar seu filho na escola foi a melhor diante do contexto de cada família. Para exemplificar como essa relação de confiança pode tranquilizar seu filho, imaginemos outra situação: o professor aguarda a chegada do aluno e, no momento de despedir do seu filho, ele presencia a mãe ansiosa, com lágrimas nos olhos, deixando-o nas mãos de uma pessoa que ele conheceu há poucos dias. Provavelmente, ele pensará: “Esse lugar é ruim! Será que é perigoso?” E quem quer ficar em um lugar “ruim” e “perigoso”? Chorar será uma das primeira reações!
Por esse motivo, a primeira conduta é demonstrar que confia no profissional que acolherá seu filho. Mostrar-se seguro, pois o adulto é a referência de segurança da criança. Quanto mais inseguros ficam os pais, mais insegura ficará a criança.
O choro é comum no momento da despedida e costuma durar dias. Logo que os pais e/ou responsáveis saem da escola, o choro cessa. Claro que cada criança se expressa de uma maneira e, se o choro for persistente, cabe ao profissional identificar os motivos e conversar com os pais. A parceria entre escola e família é essencial.
Por fim, a adaptação é um processo em que todos estão inseridos. Por vezes, é mais doloroso para os pais do que para os filhos esse período em que ficam separados.
O melhor caminho é sempre tirar as dúvidas e questionar a forma com que a escola conduz seu trabalho. A palavra-chave é confiança! Quanto mais consistente é o vínculo de confiança dos pais com os profissionais da escola, mais segura a criança estará e mais tranquila acontecerá a adaptação.
Danielle de Faria.